Artigos técnicos

Principais técnicas utilizadas na estabilização de taludes e encostas

Foto de execução de retenção de blocos em talude rochoso por meio do uso de telas metálicas e tirante, de forma a garantir a estabilidade de taludes

Um talude corresponde a uma superfície inclinada em relação a um plano horizontal (Badillo & Rodriguez, 2016).

Ele é observado nas paisagens como produto dos processos geológicos atuantes no terreno natural ao longo do tempo, como nas maiorias das intervenções antrópicas que modificam as características geomorfológicas do solo e a rocha (Budhu, 2010).   

Essas modificações naturais ou antrópicas do terreno, tem resultado, em inúmeras vezes, no desencadeamento de sua instabilidade e no correspondente deslocamento de solo e/ou rocha, causando frequentemente grandes perdas humanas, ambientais e materiais. Assim, os taludes podem ser divididos em dois grandes grupos: encostas naturais e em taludes artificiais, sendo o último amplamente empregado na construção de estradas, barragens, canais, pontes, fundações de prédios etc. (Badillo & Rodriguez, 2016). Ademais, a estabilidade de um talude é uma consideração de extrema importância no planejamento e execução em obras de terra.

Fatores que podem causar a instabilidade de um talude determinando seu tipo de ruptura e seu tipo do deslocamento são, entre outros, o tipo de solo e de sua estratificação, as características geomecânicas do solo e da rocha, a existência de água subterrânea e superficial, as mudanças na geometria etc. associados a eventos erosivos, sísmicos (terremotos). (Budhu, 2010, Bezerra, 2017).

A influência desses fatores têm se amplificado com as mudanças climáticas, com o crescimento da ocupação urbana indiscriminada em áreas desfavoráveis (morros), sem o adequado planejamento do uso do solo e sem a adoção de técnicas adequadas de estabilização. O que a sua vez têm propiciado a ocorrência de acidentes associados a estes processos, que muitas vezes atingem dimensões de desastres (Tominaga, Santoro & Amaral, 2007) como os ocorridos no Brasil no ano de 2023 com um número recorde de desastres hidrológicos e geohidrológicos segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Brasil (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2024).

Diante desses fenômenos, tem-se desenvolvido diversas técnicas para estabilização de taludes, podendo ser fixas ou temporárias, com ou sem utilização de estruturas de contenção. As principais obras de estabilização de taludes sem estruturas de contenção são:

  • Retaludamento por corte e aterro: intervenção por meio de mudança da geometria do talude e cortes e aterros, visando regularizar a superfície.
  • Proteção superficial por materiais naturais ou artificiais: utilização de revestimento natural ou artificial para proteção superficial do talude, atenuando o choque das chuvas sobre o solo, reduzindo infiltração da água, amenizando a temperatura local e protegendo a parte superficial do solo contra erosão. O revestimento natural pode ser entendido como vegetação e solo natural, por meio de plantio de gramíneas (grama armada com geossintético, por exemplo), mudas ou hidrossemeadura. O revestimento artificial pode ser executado com cimento, geossintéticos, polietileno, lonas sintéticas, etc.
  • Estabilização de blocos por retenção ou remoção: esse tipo de proteção consiste em retenção de blocos em talude rochoso por meio de telas metálicas e tirante ou na remoção dos blocos por desmonte. A imagem inicial do artigo mostra um exemplo de retenção de blocos em talude rochoso utilizando telas metálicas e tirante.

Já as principais obras de estabilização de taludes com utilização de estruturas de contenção são:

  • Muros de gravidade: são estruturas corridas que se opõem aos empuxos horizontais pelo próprio peso. Também conhecido como muro de arrimo, podem ser feitos de diferentes técnicas, como, por exemplo, pedra rachão, solo cimento, concreto armado ou ciclópico, gabião-caixa, blocos de concreto armado e solo-pneu. 
  • Solo grampeado: são estruturas que consistem fundamentalmente na introdução de inclusões rígidas no maciço. Essas inclusões podem ser, por exemplo, barras de aço grauteadas. Essa técnica também utiliza proteção superficial da face terrosa por fina camada de concreto projetado, concreto armado, tela metálica, geossintéticos, entre outros.
  • Cortina atirantada: são estruturas de concreto armado, projetado ou parede diafragma, dimensionada em função da carga dos tirantes, que, por sua vez, são perfis metálicos cravados, concomitantemente com a perfuração, aplicação, injeção e protensão dos tirantes.
  • Estacas justapostas: a contenção por estacas justapostas se faz ao longo do perímetro do local, com execução de estacas alternadas com posterior fechamento dos intervalos. Essas estacas podem ser escavadas a seco, hélice contínua, estacas injetadas ou cravação de pranchas metálicas.

Além de conferir a estabilidade do talude, é fundamental identificar a raiz do problema, a definição das premissas adequadas para a formulação do problema e a implementação do método de análise de estabilidade apropriado para que a solução seja eficaz e duradoura. A falha na drenagem superficial, a falta de compactação do solo – que cria caminhos preferenciais de condução de água –, o mal dimensionamento de estruturas anexas sobrecarregando a estrutura geotécnica, o crescimento de vegetação no talude – de forma que as raízes criem caminhos preferenciais para a água –, são algumas das possíveis causas raiz que, somada aos fatores gatilho supracitadas, podem gerar uma instabilização de talude.

Referências Bibliográficas

BADILLO, J. & RODRIGUEZ, R. Mecánica de Suelos. Tomo 2. Teoría y Aplicaciones de la Mecánica de Suelos. 2016. 704 p.

BEZERRA, José Anderson Torres. Análise de estruturas de contenção de encostas com o auxílio do programa computacional Geofine. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/41318>. Acesso em: 16 jul. 2024.

BADILLO, J. & RODRIGUEZ, R. Mecánica de Suelos. Tomo 2. Teoría y Aplicaciones de la Mecánica de Suelos. 2016. 704 p.
MACCAFERRI SOLUÇÕES. Disponível em: <https://www.maccaferri.com/br/solu%C3%A7%C3%B5es/solo-grampeado/>. Acesso em: 16 jul. 2024.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Em 2023, Cemaden registrou maior número de ocorrências de desastres no Brasil. Brasília: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. 2024. Disponível em <https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2024/01/em-2023-cemaden-registrou-maior-numero-de-ocorrencias-de-desastres-no-brasil>. Acesso em: 06 ago. 2024.

TOMINAGA L. K. SANTORO J. Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. Disponível em <https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/233/2017/05/Conhecer_para_Prevenir_3ed_2016.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2024.

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