Artur Ribeiro atua como Coordenador de Geotecnia na Tetra Tech América do Sul.
Engenheiro Civil especializado em geotecnia de barragens e pilhas de mineração, tem expertise no segmento de geotecnia, com experiência na implantação de projetos de instrumentação geotécnica convencional e automatizada. Atuou em frentes de operação de barragens de mineração. Possui vasta experiência em projetos geotécnicos de estruturas de armazenamento de rejeito de mineração e empilhamentos de estéril.
Como você vê o estágio atual das práticas de segurança na engenharia geotécnica, especialmente no setor de mineração?
A geotecnia aplicada a mineração tem passado por um processo evolutivo significativo nos últimos anos com o objetivo de aumentar a segurança das estruturas geotécnicas, principalmente no que diz respeito aos rejeitos gerados pelo beneficiamento do minério. Novas regulamentações e padrões foram criados no âmbito nacional e internacional, e o mercado, por sua vez, passa por uma reflexão sobre os melhores caminhos a seguir. De um lado, o uso das barragens de rejeito vem sendo evitado, visto os desafios sociais, ambientais e legais. O caminho escolhido tem sido os empilhamentos de rejeito filtrado, que são um desafio em locais de clima tropical com períodos de chuvas intensos.
Neste cenário, estão surgindo novas tecnologias e processos que beneficiarão não somente a segurança na Mineração, mas também irão se refletir na segurança das estruturas geotécnicas de outros mercados, como infraestrutura e energia.
Independente do caminho, e mesmo com novas aplicações tecnológicas surgindo, acredito que a mitigação dos riscos e a segurança das estruturas geotécnicas passam pela correta aplicação dos fundamentos de engenharia. Então, deve-se estar atento a todas as etapas do ciclo de uma estrutura, começando pela concepção do projeto, respeitando-se as etapas e o período de maturação, bem como o processo de construção com os devidos acompanhamentos e controles tecnológicos. Na fase de operação, deve-se implementar os processos e monitoramento de performance corretos.
2. De que forma a Tetra Tech está utilizando a tecnologia e a instrumentação geotécnica para otimizar o monitoramento e a gestão de riscos em barragens na América do Sul?
A Tetra Tech possui expertise para atuar em todos os processos de monitoramento e gestão de riscos em barragens, tanto no projeto e escolha dos sensores, na instalação e manutenção de instrumentos, quanto na análise de performance das estruturas e no desenvolvimento de software. Hoje, possuímos grande capacidade de desenvolver soluções tecnológicas personalizadas, mas acredito que o grande diferencial da empresa é ter um grupo de profissionais com expertises variadas, com capacidade de fazer as perguntas corretas para o entendimento das necessidades do cliente, para, a partir disso, definir as melhores soluções, gerando otimização e efetividade.
Como as análises de risco qualitativa (Ex.: HIRA e FMEA) e quantitativa influenciam as decisões na gestão de barragens e pilhas de estéril?
As análises de risco são ferramentas essenciais no processo de gestão de riscos das estruturas geotécnicas, pois não é possível tomar ações para aquilo que não é conhecido. As análises de risco qualitativas, de forma geral, darão um panorama geral dos modos de falha de cada estrutura, suas causas e consequências. Em um segundo momento, o que é necessário fazer para mitigação, seja na elaboração de novos estudos, seja na implementação de novos processos e medidas de engenharia. A análise de risco também contribui para hierarquização dos níveis de cada estrutura, priorizando as ações ao longo do tempo.
A análise de risco quantitativa, além da estimativa numérica do nível de risco de cada estrutura por meio da aplicação de técnicas probabilísticas e estatísticas, permite conhecer quais parâmetros e quais modos de falha são preponderantes. A análise contribui para ações mais assertivas, mitigando os riscos para os modos de falha de maior probabilidade.
De forma geral, as duas análises podem ser utilizadas de forma combinada. As análises qualitativas levantando os principais modos de falha de cada estrutura e as estruturas prioritárias, passando-se para uma análise quantitativa para um aprofundamento dos estudos e maiores assertividades nas ações para mitigação de riscos de cada estrutura.
De que modo a geotecnia pode contribuir para soluções de engenharia mais sustentáveis e resilientes, especialmente em projetos de infraestrutura voltados para energia renovável, como barragens hidrelétricas ou parques eólicos offshore?
Na minha visão, a sustentabilidade, a resiliência das construções e a minimização dos impactos devem estar presentes na mentalidade de qualquer profissional, independentemente da indústria. A sustentabilidade deve ser considerada desde a concepção dos projetos, pois, embora os benefícios finais sejam claros, é essencial garantir que o processo não tenha um custo elevado para a sociedade. A geotecnia, como parte integrante do processo, seja em projetos de energia renovável ou outros tipos, deve focar em entregar projetos com impacto reduzido, utilizando o mínimo de recursos naturais e garantindo uma performance satisfatória a longo prazo. Assim, extrai-se o mínimo do ambiente e da sociedade, enquanto se entrega o máximo de valor agregado.
Você tem um perfil técnico, mas desempenha muito bem a função comercial. Quais dicas daria para que profissionais especialistas também possam contribuir na venda de produtos e serviços?
Acho que a principal dica é se interessar pela área e pelo negócio. Pelos lugares que passei, sempre me interessei em entender o negócio e, pelo acesso que tive às pessoas à frente da estratégia e comercialização, acabei absorvendo um pouco. Como sempre busquei esse entendimento e procurei expressar minhas ideias e sugestões, em algum momento participo das discussões estratégicas e comercialização dos produtos.
Na Tetra Tech, desde que assumi a coordenação do time de Geotecnia, vi que uma das responsabilidades seria exatamente mais focada em pensar no negócio e comercializar nossos produtos. Desde então, além de observar as pessoas que já tiveram êxito, procuro manter um contato direto com o time comercial e mentores internos. Adicionalmente para desenvolvimento, procurei cursos na área comercial, escuto podcasts voltados para negócio e mantenho leitura de livros nessa temática.